É difícil...

É difícil, de uma hora pra outra,
 se ver dependente de uma máquina.

O tratamento pode ser feito na clínica, ou em casa.
De uma forma ou de outra, uma máquina se faz presente.
Como acha que fica a mente?
Para que minha história de vida continue, dependo dela, da máquina.
E quantas outras pessoas também não dependem?

A outra opção que nós, doentes renais, temos é o transplante.
Mas assim, dependemos de um doador.

De qualquer forma, passamos a ser dependentes.

A vida muda bastante.
Uma nova rotina é criada, querendo ou não.

Às vezes me pego pensando em algumas coisas, como por exemplo: Como cumprir carga horária de 8hs de trabalho por dia, se preciso ir à clínica três vezes por semana durante quatro horas?
E pensando assim, realizar a diálise peritoneal em casa, me parece a melhor opção. Mas logo penso: Como trabalhar e estudar se preciso ter 10hs dialisando todos os dias? 
Sendo assim, o transplante, a meu ver, é minha melhor saída.
Mas até lá, tenho um caminho a seguir.

Caminho difícil.
É difícil encarar aquelas agulhas.
É difícil ver seu braço com hematomas.
É difícil ver caroços crescendo em seu braço.
É difícil voltar pra casa com lágrimas nos olhos de tanta dor que sente.
É difícil sentir dor.
É difícil viver estes dias.
É difícil ver nos olhos daqueles que estão ao seu lado, de que queriam fazer algo para ajudar, mas nada podem fazer.
É difícil, ainda com dor, sentar-se naquela cadeira mais uma vez e aguardar novas agulhadas.
É difícil saber que enquanto caminha para o transplante, é preciso aprender a conviver com a dor.

Eu sei que este é o meu caminho, não tem jeito.
Existe um propósito e tenho fé de que lá na frente, vou olhar pra trás e ver o quanto tive lições. E talvez, possa ajudar outras pessoas que possam a vir passar pela mesma situação.

Ninguém escolhe ficar doente.
Mas cada um de nós pode escolher se tratar.

Levar uma vida, na medida do possível, normal, não depende dos médicos, técnicos e enfermeiros, tão pouco de amigos e familiares. Depende de si.
Acredito que o primeiro passo, é a aceitação do próprio paciente. Depois vem o apoio de familiares e amigos. Em seguida, buscar conhecimento sobre o problema, se informar sobre bons médicos, seguir suas orientações.

Não adianta reclamar.
Não adianta se não seguir a dieta
Não adianta se não tomar os medicamentos corretos.

A vida que está em jogo, é a minha, não a do médico.
O doente renal sou eu, não a enfermeira ou a técnica.
Sou eu que tenho que decidir me cuidar.

Pra mim, não está sendo nada fácil, acho que pra ninguém é. E digo isto independente do problema que possa ter.
Mas eu insisto em dizer, quero viver!
Se é aquela máquina, que por enquanto, faz com que eu viva, então continuarei encarando as agulhas.

E o braço? Bem, é possível que ele fique mesmo marcado. Mas será mesmo que tenho que me importar com a estética quando minha vida está em jogo? Não, não. Viver é mais que isso!

Continuo vivendo…

Deus, continue no comando!
Pois quando paro pra pensar, 
minhas forças parecem esgotar.
Sou humana, tenho minhas fraquezas.
Minha fé é a única que não se abala.
Então me ajude Pai!
Me ajude a passar por essas etapas deste caminho, desconhecido e doloroso.
E obrigada! Obrigada por me manter viva e confiante em ti!

Débora Moura