sexta-feira, 9 de setembro de 2011

São Paulo

Já estive em São Paulo duas vezes com meu pai. A nossa primeira ida, foi de muita expectativa, pois fomos ao Hospital do Rim e da Hipertensão, sendo assim, imaginamos que lá encontraríamos “os caras” que entenderiam toda a história (que realmente é muito pobre) e “matariam a charada” do porque que tudo isso aconteceu.
Meu pai separou todos os exames que fiz desde que descobrimos o problema. No caminho fomos conversando à respeito do que perguntaríamos. Chegamos até a combinar de que à cada pergunta, se um ou outro lembrasse de mais alguma coisa, erapara complementar o questionamento.
E assim fomos… Muitos papéis na mala, muitos questionamentos na cabeça e expectativas no coração.
Não tivemos dificuldades em localizar o hospital. Aliás, fica aqui registrado o quanto São Paulo é bem sinalizado (pelo menos por onde precisamos passar). Ao chegar, fui capaz de sentir aquele friozinho na barriga e logo me veio ao pensamento “Meu Deus, será que finalmente saberemos o porque que tudo isso aconteceu? Tomara.” Sobre essa expectativa, eu e meu pai não conversamos, mas nem precisava, a gente se entende no silêncio, no olhar.
Nosso primeiro contato, foi com a Assistente Social, uma senhora muito simpática e clara em suas palavras. Porém, quanto mais ela falava, mais os nossos questionamentos aumentavam. Ela nos informou que realizando o transplante em São Paulo, precisaremos morar lá por um período, pois enquanto transplantada precisarei realizar diversos exames para acompanhar a aceitação do novo órgão ao organismo. e aí, começamos a pensar em como moraríamos lá, de que forma conseguiríamos nos manter lá por este tempo necessário. Nos explicou também que meu doador sendo vivo, posso realizar a cirurgia aqui pelo Rio mesmo.
Enfim, fomos chamados pelo médico. bem, nada do que esperávamos aconteceu. O médico quase não nos perguntou nada e não olhou nem 1/3 dos exames. Pra não dizer que ele não olhou nada, ele olhou o dopller, mas o que ele nos disse à respeito não era novidade e também não esclareceu nenhuma de nossas dúvidas. Acho que não chegamos a ficar 10 min na sala. Ao sair, já fomos marcados para exame de compatibilidade e para retorno pós exame.
Saímos dali em silêncio, após alguns metros fora do hospital, nos olhamos e demos um leve sorriso. Ambos com a sensação de que “não adiantou nada”. Depis entendemos. Criamos muitas expctativas, mas não tínhamos parado pra pensar que ali é um hospital para transplante, não para investigar o porque do que aconteceu.
Nosso primeiro contato, em resumo, foi apenas uma triagem pré-cirurgia. Não foi uma viagem perdida, foi mais um passo neste caminho desconhecido. E à cada passo mais próximos da solução chegamos. Vamos de ponta à ponta, tentando todas as possibilidades que nos aparece.
Nossa segunda ida a São Paulo, foi apenas para coleta de sangue meu e do meu pai, para enfim verificarmos a compatibilidade. Comigo, foi bem rápido,e pra quem enfrenta as agulhas da hemodiálise, enfrentar a agulha pra tirar sangue é “pinto”. Já com meu pai, foi mais demorado, não sei, mas a técnica teve dificuldades em acertar a veia do meu pai (as veias dele são bem visíveis), até um pequeno hematoma ela fez nele. Ela precisou da ajuda da técnica que colheu o meu sangue. Somente na terceira agulhada é que conseguiram. Quanto mais eu via as furadas nele, mais eu ficava com o coração na mão. eu via no rosto dele a expressão de dor (e cá pra nós, eu sei o quanto um hematoma é doloroso) e logo me vinha a mente de que ele só estava ali passando por aquilo, por minha causa. E ao mesmo tempo, eu pensava o quanto é bonito o amor de pai e filha, pois eu faria o mesmo por ele sem pensar duas vezes.
No final do mês voltaremos lá para pegar o resultado. E também serei inscrita na fila de doadores mortos.
Fé, força e calma. Aos poucos as coisas vão se acertando.



Débora Moura

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