quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Dia-a-dia na clínica

É…algumas pessoas acham que sou “muda”, pois falo pouco na clínica. Sim, falo pouco lá, mas observo muito.
Começo pelo fato de que dificilmente entramos no nosso horário. Porque? Porque precisamos que o médico chegue para iniciar a diálise, e chegar no horário não tem sido rotina.
Agora digo sobre quantas e quantas vezes vejo pacientes de um lado para o outro nos boxes, simplesmente porque não tem máquina para dialisar. Muitas vezes isso acontece! E olha que agora sou do primeiro turno hein. Se atrasa o primeiro, todo restante atrasa também. A máquina não funciona e qual é a solução? Trazer a tal máquina ‘chupa-cabra’, paciente não dialisa bem e sai de lá com mal-estar.
Tem dia que só tem biscoito, no outro só tem suco. No outro dia muitos passaram mal por causa do calor! O pior é que estou falando sério. Era um calor absurdo! E volto a dizer, sou do primeiro turno, não quero nem imaginar como foi no turno seguinte, já que neste dia fez muito calor.
Agora algumas mudanças estão ocorrendo. Algumas novas modas. Álcool agora em um vidrinho de spray, fita é um rolo para cada técnica, e a gaze esta sendo super controlada. É um pacotinho de gaze por paciente, mas não é um pacotinho fechado, desses que a gente compra na farmácia não, é um pacotinho criado por eles. Sabe o papel que usamos p secar o braço depois de lavá-lo? Então, separam uma certa quantidade e colocam dentro desse papel dobrado.
Ouvir dizer que essas novas modas são testes, com o tempo vão distribuir o material por necessidade de cada box. Aí, sim começa a fazer sentido. Nós, pacientes de hemodiálise, sabemos que a quantidade de material varia de paciente para paciente. Concordo que não deve haver desperdício, mas tem fístula que vaza mais do que a outra, tem gente que amarra o braço na cadeira para não mexer, enfim, cada caso é um caso.
A agulha atualmente utilizada é uma crueldade com a gente, todos reclamam, semana passada disseram que mudaria hoje, quarta-feira. E adivinhem? Não mudou. Já fizemos um abaixo assinado e vamos continuar cobrando. É a gente que senta ali naquela cadeira, e é a gente que encara aquelas agulhas, então por favor, dê atenção quando a gente reclamar!
Sobre aquelas sucatas, vocês profissionais de saúde poderiam procurar alguma maneira de mudar isso, nós dependemos da máquina para continuarmos vivos e vocês para trabalhar, que tal trabalharmos juntos para o nosso bem? Eu dialiso em uma boa máquina em contrapartida você consegue trabalhar sem ter q ficar arrastando máquina de um lado para o outro, sem ter que sair correndo para socorrer um paciente que está passando mal por causa da chupa-cabra. Seria bom se pensassem assim.
Outra coisa curiosa que aconteceu hoje, foi o seguinte, no meu box tem pacientes que dialisam há mais de 10 anos e acabamos comentando de como é difícil ficar 4hs sentado naquela cadeira, que é monótono e que por isso muitas vezes pedimos para fazer em 3hs ou 3h30min, acabamos não dialisando direito, sabemos que é ruim para nós, mas é difícil ficar esse tempo todo ali. Você dorme, acorda, lancha, assiste tv e a hora parece que não passa. E uma enfermeira estava no box quando o assunto surgiu, aliás foi por um comentário dela (por estarmos fazendo 3h30min) que começou essa conversa. E começaram a pensar no que poderia ser feito para que fosse menos cansativo para nós. Não pude ficar calada nesse momento, e logo disse “Papel da psicóloga da clínica pensar nessas coisas! Sabemos que aqui tem psicóloga, mas não vemos trabalho algum.”. E como a enfermeira sabe que faço psicologia, me pediu sugestões do que podemos fazer para que o dia-a-dia sentados naquela cadeira seja menos sacrificante. Como são as coisas,né? O que seria papel de um profissional psicólogo, sujeito que ficou 5 anos estudando, passou para as mãos de uma enfermeira junto com uma paciente, dá para acreditar? Não to desmerecendo a enfermeira, não mesmo! Aliás, tiro meu chapéu pra ela, pois é um alguém que de alguma forma se mostra interessada a nos ajudar e fazer um bom trabalho. E eu? Bem… Sou paciente, mas não tenho problemas de falar sobre isso, tenho encarado bem tudo isso e levar ideias para clínica vai ser ótimo! Espero poder ajudar as outras pessoas e que os pacientes possam aderir as ideias e quem sabe à partir daí eles também possam sugerir algumas coisas também. Estamos todos no mesmo barco, então vamos remar juntos!



Débora Moura

2 comentários:

  1. poxa vc e muda + de cega vc não tem nada esta corretissima e muito complicado só de cin tenho 15 anos já briguei muito por muitos pacientes ,maquinas ,cadeiras ,agulhas e lanches e nunca mudou + vou morrer tentando adorei !!!

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  2. Adorei sua iniciativa de montar esse blog! É bom para seus amigos saberem como vc tem se sentido e o que vc tem passado. E é bom tbm para as outras pessoas entenderem o que um paciente que faz hemodiálise passa no seu dia-a-dia. Poucas pessaos se preocupam com isso, pois acreditam que estão longe de acontecer com elas, ou pessoas próximas.
    Continue mostrando para nós e para o povo do nosso país, o que precisamos reivindicar para um tratamento mais dígno aos paciente que fazem diálise e outras situações.
    Na verdade, saúde no Brasil, está longe de ser razoável!
    Beijo linda!

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